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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

" O MISTÉRIO DAS LETRAS E DE SUAS COMBINAÇÕES - IV "


Nesta manhã, o dia ainda nascendo, espreguiçando-se, vamos deixar que o Vento - que não sabemos de onde vem nem para onde vai - nos conduza no prosseguimento de nossas meditações.
Neste trecho bíblico que o ESPÍRITO SANTO trouxe a exame (Deut. 32:7-9), estamos diante  de um vocativo, de um chamamento "Lembra-te", cujo termo no original hebraico é zachor/zachar, palavra já nossa conhecida, que muitas vezes nessa língua é contrastada com o sentido de "esquecer-se" (como vimos no grego), e também implica muitas vezes o próprio "arrependimento", por isso o chamamento, o ensejo de  uma  nova oportunidade de 'reexame de consciência', uma parada na corrida frenética em busca de nada. Este chamamento à lembrança dá como primeiro indicativo a antiguidade, holam em hebraico, algo que envolve um contexto por demais forte e abrangente, ou seja: "desde os tempos mais longínquos até os tempos mais distantes", e, ainda, o "princípio do mundo", portanto, algo básico e intrínseco ao homem, e homem em queda, mas ainda o macho da espécie, daí a enorme implicação das 4 palavras em exame e do seu significado mais profundo, pois vai envolver o próprio conhecimento em si e sua árvore bipolar. Em assim sendo, o "esquecimento" é o primeiro estágio perigoso, que seguido do "sono" (quando outro chamamento bíblico novamente adverte: "Desperta tu que dormes..."), pode levar - ao final - à própria "morte", que acabará sendo eterna. Por outro lado, a palavra usada para geração no hebraico é dor, que amplia ainda mais esse contexto, pois vai não só dizer que o chamamento refere-se ao "ciclo de vida de alguém - do nascimento à morte", como ainda aponta para "um período ou era de tempo", exatamente o que veremos em seguida, e que traz uma configuração de alerta para todos os povos, nações e comunidades do planeta, algo que extrapola o aspecto religioso e passa a ser histórico, antropológico e etnológico, geopolítico, e mesmo cósmico.
Por conseguinte, esse não é um chamamento apenas pessoal, individual, mas envolve a coletividade, a comunidade, as nações e os povos, daí porque faz alusão à "herança das nações", isto é, ao tempo histórico quando sua herança foi distribuída por DEUS e os filhos dos homens foram separados uns dos outros, ou seja, em Babel. Estamos aqui diante de um momento em que a lenda judaica nos diz que - foi nessa época que a Lei Divina (as 10 Palavras) foi oferecida às 70 nações básicas existentes no planeta terra, e apenas uma - os Hebreus - a aceitaram; pois o propósito de DEUS foi sempre aquele dado a Abrahão: "em ti serão benditas todas as nações da terra". Daí advindo a constante contextualização de todos os principais acontecimentos da história, a envolver sempre os representantes desses 70 povos ou nações, ou seja: começando em Babel, segue-se no Sinai, quando a Lei foi transmitida em 70 línguas diferentes (ouvidas pelos povos quando Moisés falava) a representantes desses 70 povos ou nações ali presentes, e conclui-se em Shavuot ou o nosso conhecido Pentecostes, quando os discípulos de JESUS falaram e os representantes desses 70 povos ou nações os ouviram em seus próprios idiomas, homens que estavam ali presentes. Ou melhor, não haverá desculpa  alguma para nenhum povo ou nação, alegando ter desconhecimento dos principais fatos ocorridos na história da humanidade, e suas implicações, pois o que vem ocorrendo não é o "desconhecimento" mas "a falta de lembrança", o perigoso esquecimento. Daí a verdade estar ligada ao "lembrar-se", missão que foi conferida ao "macho da espécie", o homem, mas o homem na sua plenitude masculina.
Este é um problema tão sério que o filósofo George Santayana (1863-1952) plasmou uma frase que ficou famosa e eterna: "AQUELES QUE NÃO CONSEGUEM LEMBRAR O PASSADO ESTÃO CONDENADOS A REPETI-LO". Dizia ele que, para que o progresso fosse possível, há necessidade de não apenas lembrar das experiências passadas, mas sermos ainda capazes de aprender com elas, ou melhor,  nosso psiquismo estrutura os novos pensamentos por meio das experiências, e é assim que evitamos a repetição dos erros. Conclui ainda ele, que a civilização é cumulativa, sempre se fundamentando a partir do que aconteceu antes, da mesma forma que uma sinfonia se desenvolve nota por nota até formar um todo.
Isso tudo considerando, e voltando ao texto bíblico, verificamos que ele afirma que DEUS fixou os limites dos povos (geográficos e de comportamento), limites que não poderão ser ultrapassados, algo muito forte e vital, que, por decorrência, passa a dizer respeito também para as nossas vidas, ou seja, há limites que não poderemos transpor sem que as consequências sejam aquelas que não gostaríamos jamais de viver e experimentar, e esta é uma lei cósmica, universal e intemporal.
Portanto, terminemos esta meditação matinal com a sugestão Divina: "Porque a porção do Senhor é o seu povo". Lembrete (zachar) importantíssimo, ou melhor, a colocação ou o referencial de que há necessidade vital de pertencermos a esse povo, o povo que é ensinado a lembrar-se, para não cairmos no esquecimento, cairmos no sono e despencarmos na morte eterna, quando o esquecimento será total, nas águas do rio Lethe. Um bom dia, com a memória em dia, Enos.

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