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quinta-feira, 9 de maio de 2013

MACHO E FÊMEA – O CASAMENTO – I


“E DEUS criou o homem à Sua imagem e semelhança, à imagem de DEUS o criou; macho e fêmea criou-os” (Gen. 1:27)

Nosso mundo está colocado debaixo de uma polaridade básica, uma oposição está estabelecida em seus fundamentos, a manifestação está sob uma dualidade constitutiva, uma antinomia. Nas Sagradas Escrituras este fato fulcral surge no 1º versículo do Gênesis/Bereshit, contrastando céus e terra. Em seguida, pontua outra dualidade constitutiva: luz e treva. Ao depois estabelece uma separação e/ou distinção entre águas de cima (Holam Chabah) e águas de baixo (Holam Hazeh). Para mais adiante, ao falar da criação do homem, indicar outra polaridade fundamental: macho e fêmea. Mas não termina aí, pois ainda vai pontuar outra dicotomia: o shabat (sábado) e a semana, e de certa forma, concluir contundentemente com o bem e o mal. Isso sem falarmos, na direita e esquerda, no doce e amargo, no prazer e no sofrimento, na beleza e na feiura, etc.
É desta polaridade – macho e fêmea - que vamos nos ocupar, pois nos diz respeito, envolvendo o homem e a mulher, e acima de tudo – o casamento. No hebraico original macho é traduzido pelos termos zachor/zachar (nossos já conhecidos de meditações anteriores), que estão diretamente ligados a dois conceitos de suma importância: o macho da espécie e a necessidade de lembrar-se. E fêmea é traduzida no original hebraico pelo termo neqevah, que por sua vez está diretamente ligado aos conceitos de continente (aquela que contém) e aquela que encerra a força do Nome (algo mais místico e misterioso), pois é ela que “dá à luz” e é a “mãe dos viventes e/ou a doadora de vida (Chawah ou Eva)”. Curiosamente, de Bereshit/Gênesis, destaca-se a seguinte verdade: o homem primeiramente foi feito “macho e fêmea”, isto é, ele era andrógeno, continha em si tanto o macho como a fêmea da espécie, tendo esta sido tirada diretamente do seu ladotselah (e não da costela, como popularmente se diz), razão pela qual o MASHIACH na Cruz teve o seu lado ferido com a lança romana, dele saindo água e sangue, o que simbolicamente constitui o nascedouro da Igreja [aqui verdadeiramente nasce a Igreja Cristã, na Páscoa (Pessah, quando o cordeiro é morto – na Cruz), e não em Pentecostes (Shavuot, ocasião em que se dá a 1ª grande colheita de almas, 50 dias depois) como tradicionalmente se diz], brotando diretamente do lado do Messias (configurando a água o símbolo do batismo e o sangue o símbolo da redenção), à semelhança da mulher tirada do lado do homem no Gan Eden. Em assim sendo, como o homem originalmente era andrógeno, do seu lado saindo a mulher, esta recomposição e/ou reconstituição só poderá se dar no casamento, na união física, mental e espiritual entre um homem de verdade e uma mulher de verdade. Este é o primeiro grande embasamento do casamento, ou seja, como uma união entre seres diferentes, mas complementares. Razão pela qual ela (união) nunca poderá se dar entre 2 homens ou 2 mulheres, pois nunca poderão ou conseguirão se completar e não reconstituirão o ser único original o - Hadam Kadmon. Só no casamento, entre um homem e uma mulher, no momento do orgasmo mais profundo e perfeito – ocorrerá de novo em símbolo a re-união das duas partes complementares – macho e fêmea – como era no princípio, e eles (o casal) se sentirão uma só carne.
Esta bi-polaridade da espécie humana, macho e fêmea, dimana (brota/surge) de algo ainda mais medular, radical, ou seja, da bi-polaridade entre as árvores do bem e do mal. Aqui estamos em terreno por demais misterioso (do nível sod), e vamos nos socorrer da sabedoria de Annick de Souzenelle, em sua obra “O Simbolismo do Corpo Humano”, para trazer alguns ensinamentos de suma preciosidade, ou seja:
“O Homem que passou do 6 ao 7 (do nível da criação ao nível da perfeição, “dica” nossa) começou, assim, a caminhar na direção do mundo divino ultrapassando seus próprios limites. Para ele, não há dúvida alguma de que não pode entrar no mistério, a não ser que consiga abarcar, em sua totalidade e em suas justas relações, os dois termos da antinomia. Em DEUS coexistem o Ser e o Não-Ser. Ao se definir como Ser (Ex. 3:14), DEUS já se limita [é a Kenosis Divina (esvaziou-se de si mesmo, “dica” nossa) dos Padres gregos, o Tsim Tsoum dos hebreus - o PAI (ABA/hav) conteve-se e se retirou de uma parte de Si mesmo, para poder criar o Universo, “dica” nossa] e o caminho do Conhecimento só pode ultrapassar essa definição afirmando também igualmente o seu contrário: o Não-Ser.
Nessa perspectiva, o “bem” e o que se convencionou chamar de o “mal” da Árvore, constituem uma coisa só, como os dois polos de uma mesma realidade inexprimível.
VeRah (o mal) enquanto contrário do bem, da perfeição, da estabilização, não tem o sentido que lhe damos, mas implica a realidade de um formidável dinamismo, de uma perpétua caminhada para essa perfeição que, antinomicamente, já é.
A palavra RAH, na narração bíblica, se nos apresenta incorporada à conjunção “e”, o Waw, formando uma nova palavra VeRAH.  A letra Hayin joga sempre dialeticamente com o Haleph/Halef em uma relação treva-luz, pois o Homem não pode ir em direção à luz do Haleph/Halef senão indo à “fonte” do seu ser, o Hayin. A tensão entre essas duas energias cria o potente dinamismo de crescimento da Árvore.
Suponhamos esse crescimento realizado, o Haleph toma o lugar do Hayin no seio da palavra RAH que se torna VeRAH. Esta última é formada, então, por três letras da palavra luz – Haor. Isso nos permite traduzir a palavra VeRAH – o Mal – por “ainda-não-luz”.
A criação só se manteve em seu equilíbrio de ser vivo na tensão existente entre essas duas realidades que, em “profundeza”, são apenas uma: a luz TOV e a ainda-não-luz RAH, a perfeição e a imperfeição, o acabado e o inacabado, a harmonia e a confusão, etc.
Toda uma sintropia cósmica está aí, como a física pode verificar. Essa disciplina científica está prestes a viver o seu “7”, com a imensa reconversão à qual está obrigada de uns tempos para cá, pela teoria da relatividade de Einstein (um hebreu), teoria que, hoje, diz o físico O. Costa de Beauregard, deveria chamar-se “Teoria do Absoluto encoberto pelas aparências”.
Essas aparências: luz e ainda-não-luz, perfeição e não perfeição, etc., formam a dualidade da manifestação. Quem, ignorando a unidade que as recobre, é capaz de apreendê-las fora da oposição imediata que elas exprimem, da divisão que elas provocam ?
Ninguém pode dominar a antinomia sem ter entrado na experiência vivida da sua ultrapassagem, por parcial que seja, caminhando rumo ao núcleo que liga os seus polos.
Esses dois polos são constitutivos do Adão criado “macho e fêmea” (Gen. 1:27). Macho – Zachor – é aquele que “se lembra” (é a mesma palavra em hebraico) da sua reserva de energia – Neqevah (fêmea), “continente” que encerra a força do NOME. É macho aquele que se lembra do seu feminino inacabado e que toma o caminho da conquista do seu NOME. Está aí a vocação fundamental de cada Adão, homem ou mulher. Adão e o seu feminino inscrevem-se na mesma dialética que Tov – veRah. O feminino, a “sombra” de cada um, contém o segredo do nosso NOME.
O fruto da Árvore do Conhecimento da dualidade é o conhecimento da unidade conquistada, o Yod do NOME Divino YHAWEH (YHWH).”
Resumindo exposição tão rica, verificamos que a bipolaridade - macho e fêmea - procede diretamente daquela outra bipolaridade ainda mais básica – as árvores do bem e do chamado “mal” -, razão pela qual ambas então dentro de um contexto muito profundo e fundamental. Pois, como o “mal” na realidade é uma “ainda-não-luz”, por sua vez é a fêmea que “dá à luz”, dela precisando o macho para a conquista do seu NOME, nome esse que descortina a sua natureza mais intrínseca e que clareia o seu caminhar, ensinando-o a descobrir e desenvolver os seus talentos mais ricos. Nesse contexto misterioso, verifica-se que é a mulher que dá luz ao macho, a fim que possa lembrar-se e conquistar o seu NOME (sua identidade), enquadrando o casal no contexto do bem TOV e do chamado mal RAH. Algo que, jamais, conseguir-se-á numa relação homossexual, homem com homem e mulher com mulher, que continuarão eternamente à procura de si mesmos e nunca se encontrarão, pois são idênticos, temeram a diferença.
Paremos por aqui hoje, pois é muita luz, e muita claridade pode ofuscar, ensandecer. Deixemos que a Palavra trabalhe nosso interior, para nos acostumarmos à luz e podermos voltar a caminhar dentro dessa polaridade maravilhosa e constituinte, permitindo que a luz proceda à reconstituição do nosso lado ainda-não-luz. Enos. 

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