“E disse o Eterno
DEUS: Não é bom que o homem esteja só. Far-lhe-ei uma companheira frente a
ele.” (Gen. 2:18)
Lembremos (zachar), estamos dentro do contexto mais fundamental de todos, o do
bem e o do chamado “mal”, ou seja, da luz e da ainda-não-luz, da perfeição e da
imperfeição, do acabado e do inacabado, devendo cada ser humano alimentar-se
desses dois frutos para poder fazer a sua escolha, querer ou não completar-se –
sair da ainda-não-luz para a luz -, para vir a experimentar a perfeição da obra
criada, deixar-se como Hadam (terra
vermelha) trabalhar pela Mão Divina (o Divino oleiro) para alcançar em
plenitude a “imagem e semelhança do Criador”. O verdadeiro homem é que é imagem
e semelhança do Criador.
É nesse contexto fulcral – do Gan Eden – que a expressão – macho e
fêmea – ganha uma configuração de extrema profundidade, pois o homem, para sair
do estado de “ainda-não-luz” para a luz, vai precisar daquela que “dá a luz”, a
fêmea do gênero humano, a mulher, (Chawah,
Eva, a mãe dos viventes, a doadora de vida), por esta razão o PAI a criou como “uma companheira frente a ele”, que em hebraico é traduzido por – hezer
kenegedo -, ou melhor, uma ajudante opositora, uma ajudante compatível,
uma ajudante associada. Isto é, para que o homem receba luz e saia dessa
situação inicial (desde a queda) de ainda-não-luz, precisa que a mulher lhe dê
à luz, ou melhor ainda, lhe faça uma oposição sadia, como uma associada em seu
caminhar, esteja sempre defronte a ele, confrontando-o e desafiando-o a se realizar
como o macho do gênero humano, aquele que sabe “lembrar-se”, ater-se à verdade,
e possa conduzi-los a ambos – homem e mulher – em a direção da luz cada vez
mais plena, quando conquistará o NOME (razão medular pela qual os judeus chamam
a DEUS de HASHEM, o NOME), com que
foi agraciado pelo Criador, realizar-se-á plenamente, desenvolverá seus
talentos mais ricos, e será tremendamente criativo. A mulher, Chawah, como doadora de vida, ao dar à
luz ao seu companheiro, também irá se realizar plenamente na sua missão Divina
de ser “aquela que contém” a semente da verdade (aletheia), aquela que traz ao mundo um ser que sabe o que deve
fazer, que não irá ser perder pelo caminho. Ora, esse encontro e esse caminhar
só poderá ocorrer no casamento, quando um macho e uma fêmea podem se encontrar
e se defrontar, razão pela qual o ato sexual entre o homem e a mulher é feito -
frente a frente -, e não um atrás do outro, como fazem os animais, e tentam
faze-lo aqueles que ainda não compreenderam o que está encerrado no casamento
entre macho e fêmea, ou seja, a reconstituição do ser das origens – o Hadam Kadmon, o andrógeno –, algo que só
será possível através daqueles que far-se-ão “uma só carne”. Por isso, o
Criador disse: “Não é bom que o homem esteja só”, algo que envolve não apenas a
mera solidão “estar só”, mas que pontua algo muito mais profundo, pois a
solidão física não tem comparação com a solidão existencial, pois esta só irá
ser aplacada pela união de 2 seres diferentes, mas complementares, que só e só
pode se dar no casamento entre macho e fêmea.
Nesse instante de nossas
considerações, vamos aproveitar a sabedoria do Rabino Shlomo Riskin, em sua
obra “Luzes da Torá”, vol. 1 – Gênesis, quando ele nos ensina:
“Por que o “nascimento” de Eva
está aparentemente cercado de uma qualidade mítica ? Por que ela é criada a partir de Adão e não
como uma criatura independente ? Na
própria pergunta está contida a resposta. O “nascimento” sem paralelo de Eva
marca seu papel ímpar como parte inextricável de seu companheiro masculino,
como uma criatura com quem ele precisa partilhar e não uma criatura que ele
precisa controlar. Afinal de contas, como ela é parte dele, ele também é parte
dela.
Portanto, de acordo com essa
interpretação, o ser inicialmente criado por DEUS era masculino e feminino.
Quando Adão adormeceu, DEUS dividiu essa criatura em duas, de modo que cada
metade procurará se completar com a outra. Assim, cada metade compreenderá sua
dependência na outra e buscará ficar inteira por meio da outra. De fato, em
cada relacionamento ou mutualidade há momentos em que cada uma das partes deve
desempenhar um papel mais passivo, como se caísse num sono profundo, para que a
outra possa emergir.
Ao acordar, Adão diz a respeito
de Eva: “Esta aqui é osso de meu osso e carne de minha carne” (Gen. 2:23). Sua
busca terminou. E o que é verdade para Adão é também verdade para o gênero
humano. A personalidade humana viverá em angústia até encontrar a compleição
por meio do verdadeiro sócio de sua vida. Assim, no versículo seguinte, DEUS
anuncia o segundo princípio básico da vida: “Portanto, deixará o homem seu pai
e sua mãe (e não seus 2 pais ou suas 2 mães) e unir-se-á à sua mulher e assim
serão como uma só carne”. (Gen. 2:24)”.
Só podemos nos fazer – uma só carne – vivendo em plenitude o
relacionamento do macho e da fêmea do gênero humano. É algo que só podemos
experimentar saindo desse estado de “ainda-não-luz” para caminharmos em direção
da luz, e o único ser que poderá nos ajudar nessa libertação é a mulher de
verdade – a companheira idônea -, aquela que vai nos ajudar em oposição – hezer kenegedo -, uma ajuda associativa,
vamos ser sócios de um mesmo empreendimento, recuperar a imagem e semelhança do
Criador, pois o macho e a fêmea vem Dele, e Ele quer que nós experimentemos
aquilo que o psicólogo Jung já havia preconizado, descobrirmos nossos lados
masculino e feminino, em cada um de nós, tanto homem como mulher, mas isto só
poderá se dar pela diferença e não por uma identidade do mesmo, que não nos vai
levar a lugar algum, mas nos manter na solidão existencial, que é terrível e
penosa, pois nos mantém adormecidos em sono profundo, aquele que vai nos
conduzir diretamente para o rio Lethe
do inferno.
A posição homossexual é um estado
de ainda-não-luz, de imperfeição, de inacabamento, de confusão, não descobrimos
ainda a nossa identidade mais básica, de macho e fêmea, algo que a Psicanálise
explica muito bem, ou seja, em nosso crescimento físico e mental, um dos passos
iniciais é descobrir quem somos em nosso gênero humano, macho ou fêmea, para
poder aprender a desempenhar os papéis relativos a cada um deles. Se não
conseguirmos dar esse primeiro passo, vamos seguir confusos de quem somos para
o resto da vida. E isto é ciência pura, algo que não tem nada a ver com crenças
religiosas, mas que diz respeito à nossa constituição física e mental, que terá
profundas repercussões no caminhar espiritual.
Com os referenciais em vista: da
Árvore do bem e do chamado “mal”, e do que é realmente ser macho e fêmea; meditemos
nessas verdades, e permitamos vir à lembrança as cenas das origens, do Gan Eden, para não sermos novamente
iludidos pela serpente, que quer nos fazer “como DEUS”, e não permitir a nossa
realização como homens e mulheres, como macho e fêmea, quando aí, e só aí, poderemos
realmente portar a imagem e semelhança Divina e levá-la para o patamar bíblico
da Revelação de HASHEM, o NOME. Um
bom dia com a memória em dia. Enos.